Das coisas que mais saudades senti nestes tempos de covid, foi de ir ao teatro. Gosto de teatro pelo simples facto de que ali acontece tudo no mesmo momento, a interpretação dos atores e a minha interpretação do que estou a ver e a ouvir, não há lugar à edição, é o que é naquele momento, e se alguma coisa escapou ao guião, dá-se a volta, repete-se, o que for, mas acontece naquele momento.
Recentemente fui ver Intimidade Indecente (texto de Leilah Assumpção).
Sinopse
"Intimidade Indecente pode ser catalogada como uma comédia romântica. Mas é muito mais do que isso. É uma história de amor. Uma história de amor na maturidade. A história de um casal, dos seus encontros e desencontros.
Mariano e Roberta separam-se aos 50 anos.
O espectador acompanha os seus reencontros ao longo dos anos seguintes, década a década, até à casa dos 80, embalado num trabalho de actor absolutamente encantador e surpreendente.
Paixão, sexo, traição, amor, preconceito são alguns dos ingredientes desta história que promete emocionar as plateias e conquistar o público em Portugal."
Marcos Caruso interpreta Mariano e Eliane Giardine, Roberta, naquilo que se posso considerar interpretações sublimes face aos sentimentos que me provocaram enquanto espetadora. Tanto tive vontade de rir, como existiram momentos em que senti formar-se um nó na garganta e uma lágrima no canto do olho, ao mesmo tempo que sem qualquer caracterização adicional, na interpretação dos atores, conseguimos perceber o avançar dos anos pela postura corporal que adotam e reconhecemos o caminho que está a ser trilhado para um fim.
Pelos relatos de quem já viu a peça, sinto que posso escrever por mim e por eles. É uma peça que nos leva para além do casamento e do seu fim, que nos conduz ao que é o amor de duas pessoas que decidiram dar um rumo diferente às suas vidas mas que continuam a ter um fio invisível que as liga, ligação essa que já não é mais um amor carnal mas sim um amor que vive da amizade e do cuidado e que tantas vezes pode e devia sobreviver ao fim de uma relação. Deixam de ser marido e mulher para continuarem a ser parceiros nesta viagem que é a vida.
E para melhor compreender o que se passa em palco, é preciso relembrar que esta pequena definição vai mesmo muito mais além do que um simples papel assinado.
a·mor |ô|
1. Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atracção; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa
Talvez possam pensar que é fácil falar porque é simplesmente uma peça de teatro, e que o mundo real é bem diferente, concordo, mas ainda assim não é impossível, e todos temos muito mais a ganhar quando a maturidade nos consegue levar por este caminho de amor. Sei que nem sempre é ou foi fácil, mas cresci e continuo a crescer diariamente com esta realidade e posso dizer-vos que sim, é possível existir um fio invisível a ligar duas pessoas e que no fim tem sempre o mesmo nome: Amor.
A peça vai estar em cena em Lisboa no BBVA até ao dia 20 de fevereiro e depois segue em digressão pelo país, não percam se tiverem a oportunidade.
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